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12 de dezembro de 2010

Mudança de Vida

"Não é para me gabar, mas eu sempre tive motivos de sobra para me considerar um ídolo das meninas do meu colégio [...]. Sou alto, loiro, forte e supercobra no vôlei e no basquete. Isso me tornava um cara paqueradíssimo, que podia namorar ora uma, ora outra. Fidelidade eu só demonstrava pela motocicleta que ganhara do meu pai (apesar dos protestos da minha mãe). Era uma CB 400 transadíssima, e em volta dela normalmente se formava uma rodinha de garotas à espera de carona, no final das aulas." (Jesse Navarro e Márcia Melo. In: Gabriel Garcia et alii. Sete faces do amor. São Paulo: Moderna, 1992. p. 45)
As coisas eram assim, antigamente. Mas foi no dia 11 de junho daquele até então animado e extasiado ano de 1992 que tudo mudou.Costumava acordar às sete horas para chegar ao colégio atrasado e posar de durão, mas nesse dia acordei mais cedo, às seis horas já estava de pé.
Levantei, tomei banho, me alimentei no café da manhã como há tempos não fazia. Às sete, estava de saída, fui até a garagem. Olhei para a moto demasiadas vezes, e resolvi ir andando, talvez para refletir.
Logo cheguei ao colégio, não havia começado a aula ainda. Todos me olhavam surpresos pelos corredores, e eu não sabia o porque, mas sabia que algo em mim realmente havia mudado. Fui ao meu armário pegar meus livros, e, ao abrir, comecei a observar o que havia lá. Fotos dos torneios de vôlei e basquete, lembranças de um passado que parecia muito distante, mas que estaria para sempre gravado na minha memória.
Na aula, tudo pareceu normal. Fui para casa, tomei banho e almocei. Me bateu uma vontade imensa de caminhar; e foi assim que saí, vagando sem rumo pelas agitadas ruas da cidade. Após um tempo, avistei um lindo campo, para onde me destinei.
Sentei na grama, comecei a pensar na vida, em tudo o que havia feito naqueles tempos de popular. Percebi o quanto meus dias haviam sido banais até ali. Comecei a imaginar como seriam as coisas boas e os momentos verdadeiros que perdi. Foi então que avistei alguém, sentado na sombra de uma árvore próxima dali. Era um rapaz bonito, de expressão serena. Resolvi me aproximar, mas não sabia o que falar. Iria inventar alguma coisa na hora, tinha que dar certo.
Fui até ele. De perto, era ainda mais bonito. Tinha pele morena clara, olhos de um verde vivo, nariz milimetricamente "planejado", lábios nem grossos nem finos demais. Que estranho, nunca havia observado um garoto dessa maneira. Sorri para ele, e a conversa surgiu naturalmente.
Logo consegui desabafar, contar o que estava preso em mim há anos. Ele me ouvia com atenção, e me aconselhava como se tivesse um vínculo, uma ligação mútua há anos. Eu nunca havia olhado para um garoto daquele jeito.
Do nada, um silêncio gostoso pairou no ar. Nos entreolhamos. Senti seu rosto moreno se aproximando do meu, seus lábios mornos tocando os meus. Feixei os olhos e apenas senti. Nos beijamos, num beijo longo e intenso.
Naquele momento, senti que algo realmente havia mudado em mim, e que minha vida dali para frente não seria mais a mesma.


(Conto feito para aula de redação - 11/06/2010)

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