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12 de dezembro de 2010

Tolice

"Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam [...]. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, princípio, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem..."
Guimarães Rosa realmente tem razão. Tudo bem que cada momento em nossa vida é único e deve ser vivido com a maior intensidade, mas cada um tem marcado em sua memória e em seu coração momentos especiais, momentos que podem ter durado uma fração de segundo, mas que pra quem viveu, serão eternos. Um abraço, um sorriso, um banho de chuva, uma lágrima. Tudo o que há de mais simples e de mais maravilhoso. Tudo que se torna indescritível, tudo que não acontecerá novamente. Não do mesmo jeito.
Coisas que para alguns parecem tolas. Tolas. Tolo é se preocupar com um fio de cabelo fora do lugar ou comer uma alface por dia só pra ser considerado atraente. Tolo é ser arrogante com quem lhe é educado, tolo é não saber sonhar. Tolo é atravessar a rua preocupado com o rastro que ficou na faixa de pedestre, tolo é fechar os olhos quando o vento passa para que um grão de areia não entre no olho. 
Tolo é correr da chuva pra não estragar o cabelo, fingir estar doente para não ajudar alguém. Tolo é fazer escândalos por besteira, não dar valor a quem te quer bem. Tolo é não saber viver. Não ser quem realmente é, isso sim é tolo.


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